A equipa do Entre Linhas esteve em Roma para participar numa reunião com Associação de Guias e Escuteiros Católicos de Itália (AGESCI). O projeto está muito perto de chegar à sua conclusão, mas o trabalho que precisamos continuar a fazer, está longe de terminar.
A proposta de levar a equipa do Entre Linhas a Roma surgiu numa tentativa de criar uma conclusão pomposa ao trabalho até agora desenvolvido. No entanto, quando nos apercebemos do que estava para acontecer, questionamo-nos- “vamos a Roma, fazer o quê?”. Mal sabíamos nós o tanto que haveria para fazer, para dar e para receber.
Esta viagem começa como um acaso, e concretiza-se numa certeza de alento: o caminho que fizemos não foi em vão. Em reunião com uma equipa da Associação de Guias e Escuteiros Católicos de Itália (AGESCI) criada, precisamente, para ouvir e escutar aquilo que os dirigentes tinham a dizer, os problemas que tinham a admitir acerca de questões como “Como acolher e acompanhar os jovens na vivência da sua afetividade e sexualidade?”, o espanto foi geral. Em primeiro lugar, porque na Itália, uma Equipa Projeto que pouco ou nada saberia da existência do Entre Linhas, foi criada para estudar e ouvir as questões da Afetividade e da Sexualidade. Em segundo lugar, pelo modo diverso como abordam estes temas – não tanto partindo dos jovens (já que para estes, este tema é quase assumido como “uma normalidade”), mas sim dos dirigentes, adultos que estão preocupados e reconhecem a necessidade de linhas orientadoras.
O encontro pautou-se por uma troca de experiências, questões e algumas respostas que culminaram numa certeza – a relação escuteiro/dirigente é e deve ser assimétrica, mas as incertezas sobre a vida e o futuro são as mesmas e inquietam quer um quer o outro.
Depois desta reunião, que se revelou mais fecunda do que aquilo que esperávamos, partimos em direção à “Università Pontificia Salesiana” – o grande motivo que nos levou a Roma – para participarmos no simpósio “Giovani e sessualità. Sfide, criteri, percorsi educativi” (Jovens e sexualidade. Desafios, critérios e percursos educativos). Ao ouvirmos especialistas de diversas áreas – momento que remonta ao primeiro ano do Entre Linhas – reencontramos preocupações comuns e um horizonte de reflexão e prática pastoral a necessitar urgentemente de ser percorrido – os vídeos deste simpósio podem ver-se aqui
Para além de termos desenferrujado o nosso italiano, aprendemos muito sobre aquilo que acabamos por concluir ser o critério do Evangelho: a relação. Tudo se forma e tudo entra na relação, o ser humano não é um ser sozinho. A relação com o outro e a relação com Deus são as duas grandes linhas onde tudo ocorre – é no outro que vejo Deus, e é através de Deus que vejo o outro. Poderia concluir-se que tudo se passa entre linhas.
Por fim, realçar que esta viagem trouxe consigo a tónica de finitude deste projeto. Foi um modo de concluir o trabalho e de preparar em conjunto a fase que se segue: diluir pelo CNE as ferramentas criadas e as conclusões a que chegamos para conseguir, aí sim, gerar os devidos frutos.
Roma não deixou nenhum de nós indiferente. Ao caminhar por corredores do Vaticano que poucos pisam, ao contemplar a magnificência de Igreja, de cada escultura, redescobrimos a humanidade da nossa fé, e recordamos humildemente o nada que somos e o pó que seremos. Humanidade e humildade são também outras linhas pelas quais devemos pautar não só o projeto, mas toda a nossa vida.
Foram muitas as linhas com que escrevemos, muitas as linhas que aos olhos de muitos passamos, mas sobretudo unimos linhas – linhas de quem precisa de ser escutado e de quem se propõe à escuta; linhas de quem tem medo e linhas de quem ganhou a coragem. O projeto está muito perto de chegar à sua conclusão, mas o trabalho que precisamos continuar a fazer, está longe de terminar.
Carla Eiras